segunda-feira, 12 de julho de 2010

AS CRUZADAS


Dentre as mudanças ocorridas na Ordem Feudal, mais especificamente na Alta Idade Média, estão as Cruzadas, que abriram caminho para que o feudalismo mergulhasse num irreversível e lento declínio causando a desagregação do Regime Feudal.
A cidade é Clermont, na França, o ano é 1095, quando o Papa Urbano II reúne uma multidão de nobres, religiosos, fanáticos e gente de toda natureza, em meio a choro e argumentos diversos, ele exorta os cristãos a organizarem uma expedição rumo a Jerusalém com o objetivo de resgatá-la dos árabes que desde a Alta Idade Média já tinham a sua posse.
Em seu apelo à primeira cruzada o papa Urbano II conclama: “A todos aqueles que partirem para as Cruzadas e perecerem no caminho, seja por terra, seja por mar, ou que perderem a vida combatendo os pagãos, será concedida a remissão de seus pecados.” (História Viva, Janeiro de 2005).
Após terem transitado por Constantinopla e partirem para a conquista da Palestina, os cruzados sabiam muito pouco sobre o mundo que iriam penetrar. Ignorantes que eram da história das nações Islâmicas, de acordo com Jaime Pinsk, era muito complicada essa convocação, pois a maioria das pessoas nem sabiam onde ficava Jerusalém e nem sabiam se deviam ou não considerar os argumentos do Papa.Apenas os mais esclarecidos sabiam vagamente que Jerusalém e boa parte do Oriente já era conquista dos árabes desde o século VIII.
Em meio a quatro séculos a partir da convocação do Papa, havia um convívio mais ou menos amistoso entre os dois lados. Os árabes sempre foram de acordo com as caravanas que atravessavam a Europa para chegarem a Jerusalém.Pinsk questiona: Se o clima não era tão tenso, por que então o Papa em prantos, ressaltaria a moral e a fé das pessoas que escutavam no Concílio de Clermont no século XI?
Daí percebermos as suas reais intenções quando fala sobre o surgimento de uma raça oriunda do Reino dos Persas, uma raça maldita, alheia a Deus, que invade as terras dos cristãos.Invadiram com violência, mataram cativos, levaram outros, destruíram igrejas.O Papa conclama as pessoas a acabarem com o ódio, desavenças e que entrem na Terra do Santo Sepulcro e arranquem daquela gente malvada a terra que segundo o que diz as escrituras, “escorre leite e mel”.Segundo seu discurso, Jerusalém era o centro do mundo, e suas terras eram mais férteis do que todas as outras.
Com isso percebe-se nas suas intenções o interesse por conquistar terras produtivas, utilizando da boa fé das pessoas em nome de Deus. Isso fica claro quando diz: “Quando o ataque for lançado sobre o inimigo, que um grito seja dado pelos soldados de Deus: Deus o quer! Deus o quer! Insistia ainda em dizer que Jerusalém e os Lugares Santos eram espezinhados.
Desse modo entende-se que a motivação religiosa inicialmente foi canalizada para a retomada de Jerusalém. As pessoas ricas, pobres, citadinas, camponesas, crianças, mulheres, monges, demonstraram uma grande vontade de irem à Jerusalém ou ajudarem a quem fossem. Foram também soldados, Ladrões, Piratas, que surgiram tocados pelo Espírito de Deus, confessando seus crimes, arrependendo-se deles, partiram para asa Cruzadas a fim de satisfazerem a Deus por causa dos seus pecados.
Os invasores permitiam a ida de peregrinos apenas eventualmente, mas achavam muito pouco dadas à sede que tinham em conquistar terras. Em outras palavras, a Igreja não poderia permitir que Jerusalém ficasse nas mãos de infiéis. A bandeira e o objetivo inicial das Cruzadas do Oriente foi a retomada da Terra Santa.
Os cristãos partiram divididos. Uns, a grande minoria, em busca da salvação praticando boas ações em nome de Deus. Outros, a grande maioria, saqueava e matava com extrema crueldade. Em dois textos de autores árabes que relatam a tomada de Jerusalém, dão testemunhos de massacres e pilhagens: BBUYA’ALÁ HAMZA (1073-1160), e SET BAL-JAWZI (1186-1256), chegam a falar em mais de cem mil mortos.
Pinsk adverte para o discurso de Clermont, em que o Papa enfatiza as atrocidades praticadas pelos muçulmanos e implicitamente ele instiga o povo a fazer o mesmo: “ arranca aquela terra da raça malvada para que fique com vosso poder”. Diversos senhores feudais em desvantagens, suscitaram a ambição em função das “terras que jorravam leite e mel”. Após a morte do senhor feudal chefe da família, as terras eram entregues aos herdeiros mais velhos. Muitos nobres recorriam à guerra para terem o seu pedaço de terra. Com isso, asa Cruzadas despertaram os nobres “sem terras”, a tentarem conquistar facilmente asa terras no Oriente, levando-os desse modo a estimularem a formação de batalhões cruzados.
O contexto era socialmente favorável à formação das Cruzadas. Em virtude das grandes mudanças que ocorreram a partir do século XI, na agricultura multiplicando a produção, na construção de pontes, utilização de ferraduras nos cavalos dentre outras alterações técnicas que desenvolveram e modernizaram a agricultura aumentando a produção, as pessoas enfrentando melhor a doenças, tudo isso gerou um aumento populacional. Contudo havia o lado negativo. Nem todos conseguiam trabalho e centenas de camponeses, sem trabalho, vagavam a ermo pelas estradas. A solução encontrada para esses desocupados foi deslocá-los para o Oriente, para onde, de acordo com a promessa do Papa Urbano II encontrariam “terras que jorravam leite e mel”.
As cruzadas tiveram como base uma população excedente, na condição de atender ao apelo do Papa que prometia além de terra fértil, o perdão dos pecados cometidos.
Os cristãos esperavam contar com a ajuda de Constantinopla, o que não aconteceu, ou melhor, a ajuda se transformou num problema devido aos vários interesses que entraram em jogo. Em meio a esses interesses, organizou-se a expedição organizada por Pedro, o Eremita, um fanático religioso e em conseqüência disso essa não foi reconhecida como a primeira cruzada.
Nem todas as cruzadas chegaram a colocar os pés no Oriente como foi o caso da “Cruzada dos Mendigos”, a qual chefiada por Pedro, o Eremita, enfrentou inúmeras privações e terminou no deserto da Ásia Menor.
A primeira cruzada a ser reconhecida oficialmente pela Igreja Católica partiu em direção a Jerusalém em busca da salvação eterna. Eram franceses, normandos, germanos, sicilianos e muita gente humilde, conseguiram em fins de 1097 parte da sua intenção, recuperando para os bizantinos parte da Ásia Menor, conquistada anteriormente pelos muçulmanos. Dois anos depois chegaram a Jerusalém.
Poetas, viajantes e trovadores, decantavam aos quatro ventos a glória dos cristãos. O que não se deve esquecer é o momento desfavorável em que os árabes foram atacados. Momento em que se ocupavam com terríveis e desgastantes lutas internas. Além disso, a violência praticada pelos cristãos no combate à Cidade Santa foi exagerada.
Durante mais de dois séculos as Cruzadas associaram gerações inteiras de cristãos e muçulmanos. Não só tiveram efeitos apenas aos massacres. A violência não impedia que ligações humanas acontecessem mesmo entre inimigos, levando à superação de barreiras do ódio e incompreensão.” Emergia desse caldo outra humanidade, a decifrar e captar, como uma linha frágil através das relações guerreiras, comerciais, diplomáticas e religiosas que as histórias árabes nos deixaram.” (Revista História Nova, Janeiro-2005).
Cada um procurava encontrar equilíbrio e argumentos capazes de garantir legitimidade relativa junto aos seus e se possível junto aos adversários também. Quando um muçulmano era reconhecido por sua grande sabedoria, servia como mediador dos conflitos entre os cristãos. Ao descobrirem que os muçulmanos não eram idólatras, foram estabelecidas entre eles relações de cordialidade. Em contato com o clima do Mediterrâneo Oriental, os conquistadores do Norte foram se tornado mais brandos e seduzidos pela magia enternecedora do Oriente, deixando-se tomar pela sensualidade fascinante das mulheres. Houve até casamentos entre cristãos e sartaceiros.
Através do comércio os cavaleiros francos estabeleceram relações com os comerciantes muçulmanos. Certo pacto, digamos assim. Não que os guerreiros inicialmente quisessem isso. Porém, necessitavam repousar e experimentar os deleites do Levante. Os comerciantes lhes ofereciam tudo que fosse necessário para seu conforto, em portos já bastante ativos. Era uma questão de honra levar até eles algo que os fizessem gastar alguns trocados. Especiarias do Oceano Indico perfumes, peles do Norte, tecidos, tapetes, vidrarias, confeitos
. O Mediterrâneo era o ponto final das Caravanas que levavam todos os produtos do mundo muçulmano e do Oceano Indico as colônias venezianas, genovesas, catalãs, que ali se tinham se instalado e estavam mais preocupadas com o movimento da chegada das especiarias do que com a libertação do Santo Sepulcro.
A porta aberta pelas Cruzadas intensificou o comércio de especiarias despertando em muitas pessoas o interesse de viajar para o Oriente. O comércio estava em primeiro lugar para os mercadores. Para eles, pouco importava os resultados das guerras.
As cruzadas asseguraram durante algumas décadas, o Reino Latino de Jerusalém para a cristandade, além do Condado de Edessa, Principado de Antioquia e o Condado de Trípoli.Depois de oito décadas foram assediados pelos árabes que e recuperavam do susto e ao mesmo tempo superavam suas divisões internas.Os reinos efetivados na primeira conquista não duraram muito em virtude da fragilidade dos nobres ante o inimigo muito melhor preparado.
A queda do Condado de Odessa deu origem à Segunda Cruzada liderada pelos reis Luis VII da França e Conrado III da Alemanha. Com a tentativa dos árabes de recuperar Jerusalém em 1187, fez-se necessário organizar a terceira Cruzada liderada por Frederico Braba- Ruiva da Alemanha, Felipe II da França e Ricardo Coração de Leão da Inglaterra. As duas não deram resultados e o então Papa Bernardo I foi à loucura.
A presença de monarcas na liderança era uma espécie de reforço da autoridade pessoal.
A quarta cruzada foi organizada pelos mercadores de Veneza, interessados em aumentar as vantagens no comércio com o Oriente. Ao chegar a Constantinopla encontraram os bizantinos enveredados numa disputa sucessória que provocou o destronamento do imperador Aleixo III. Os Cruzados aproveitaram a confusão política para saquearem a capital do Império Bizantino, destruindo 1/3 da população
Com a dificuldade de reconquistar Jerusalém despertou nos fiéis mais devotos o desejo de embarcarem para o Oriente, impulsionados pelas pregações de líderes messiânicos que diziam ser o fim da humanidade. Foi aí que se formou uma inusitada cruzada por jovens e crianças.Seus líderes diziam que Deus abriria as agias do Mediterrâneo facilitando a passagem dos guerreiros infantis.A caminho muitas pessoas, como mulheres, idosos, enfermos, juntavam-se ao grupo.Como eram despreparados , sem arma e sem nenhuma defesa a não ser os cânticos religiosos e orações, eram presa fácil dos piratas e malfeitores.
Como os infanto- juvenis foram proibidos de entrarem em várias cidades e as pessoas recusavam a dividir os alimentos com esses fanáticos. A Igreja nesse momento aproveita para forjar a venda de indulgências em troca de um lugar garantido no reino do céu. Daí, os objetivos iniciais que já não eram tão “puros”, eram extrapolados pela venda das indulgências
As últimas Cruzadas foram a ratificação das empresas anteriores, prevalecendo interesses particulares de alguns aventureiros que foram para o Oriente em busca de poder e riqueza.A sexta Cruzada,1228, foi comandada por um nobre excomungado pela própria igreja, Antes de sair com as tropas, Frederico II da Alemanha casa-se com a filha do Rei de Jerusalém, abrindo as portas do reino perdido pelos cristãos.No entanto foi um reino sem força por não ter encontrado o apoio dos cristãos.Ocorrendo o aniquilamento prematuro do seu reinado.
As Cruzadas chegam ao fim, mas enquanto cavaleiros se batiam por migalhas, os mercadores cruzavam o Mediterrâneo, sendo inclusive muito bem recebidos no Oriente. Ao regressar traziam porcelanas, seda, canela, cravo, noz-moscada, espelhos, etc. dando um ânimo nas relações comerciais.


REFERÊNCIAS:Conteúdo do Livro I, INTENSIVO 2000. Curso pré-vestibular Sartre.História-
Revista História Viva, Ed. Janeiro/2005.



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